terça-feira, 2 de março de 2010

Eu voto nulo!

por Gui Campos

Então finalmente se acabou o carnaval e começou o ano no Brasil. Assim como acontece a cada 4 anos, 2010 promete espetáculos. Primeiro a Copa do Mundo. Então temos um pequeno recesso no meio do ano, e a campanha política vem com toda a força.

É uma história que conhecemos bem. Bem demais até. Trocentos candidatos têm direito a alguns segundos no horário eleitoral gratuito. Outros fazem showmícios e gincanas para arrecadar votos. E o eleitor, o mesmo eleitor que não se surpreende mais em ver nos noticiários os "representantes do povo" enchendo as meias e as cuecas de dinheiro, mais uma vez elegerá aqueles que organizarem o melhor show sertanejo ou que prometerem mais coisas.

A ignorância não é privilégio exclusivo dos iletrados. É nos anos eleitorais que isso é mais evidente. Não são poucos os representantes da pequena elite intelectual do país que votam pensando em seu umbigo. Naquele aumento de 28% prometido, ou naquele cargo público por indicação, no qual se ganha tão bem e se trabalha tão pouco. O coletivo não existe. Quem ousa pensar no melhor para a sociedade só pode ser um ditador comunista. Liberdade só para empresas e mercados. A sociedade fracassou.

Acredito que a corrupção, infelizmente, já é parte da nossa cultura. A romantização do "malandro" e do "jeitinho brasileiro" não são mais que odes a essa prática repulsiva que corrói as bases de qualquer tentativa de desenvolvimento real do país.

Mais que leis que nos protejam contra a corrupção, mais que um justiça que realmente puna os culpados, precisamos de honestidade. De noção de vida em sociedade. A corrupção está nas pequenas coisas. Desde aquele carro que corta todo mundo pela direita para se dar bem, ou o taxista que dá voltas para ganhar mais, ou o empregado que leva uma caneta para casa para economizar 50 centavos.

É claro que as proporções e as consequências são totalmente diferentes. No entanto, é a mentalidade que importa. A mesma mentalidade dos primeiros europeus que pisaram em solo americano: o objetivo é saquear o país em benefício próprio, afinal o "eu" é mais importante que o "nós".

Por mais que tentemos complicar as coisas, é tudo muito simples: o Governo, os Tribunais, o Congresso, não são mais nem menos que prédios com seres humanos dentro. As instituições são invenções nossas. Na prática, tudo o que há são prédios e pessoas. Dos prédios não podemos esperar muita coisa. Por isso só nos resta concluir que a culpa é das pessoas.

Por isso não podemos esperar transparência e honestidade dos governantes se nós mesmos somos, em maior ou menor grau, corruptos. Nunca mudaremos nada com leis ou punições, mas com consciência e mudança de atitude. Pode ser um processo longo e difícil, mas é o único real e definitivo. O matemático Pitágoras afirmou: "educai as crianças e não será necessário punir os homens". Cultura se transmite por mímica. As crianças aprendem a transformar-se em homens e mulheres imitando os adultos. Então a única maneira de educá-las é com o exemplo.

Este ano mal começou mas já foi marcante por prisões que nos deixaram orgulhosos e esperançosos de que a justiça realmente cumpra o seu papel. Agora nos resta, como eleitores, a responsabilidade de votar em pessoas que sejam de fato idôneas. Não é difícil descobrir a vida prévia daquele que se deseja votar. Basta uma busca na internet para saber tudo: quais projetos já apresentou, quanto e como gasta a verba indenizatória, os escândalos nos quais já se envolveu. O povo pode ter memória curta, mas nunca foi tão fácil o acesso aos arquivos da história.

Já como cidadão, a obrigação é tentar ser correto, justo e principalmente respeitar o outro. Entender que para que uma sociedade funcione é preciso saber que o todo é mais importante que o indivíduo. Trocar a postura de ganhar vantagem pela gentileza.

Eleger aos mesmo políticos de sempre é aceitar e legitimar as práticas políticas do nosso país. Que nessas eleições os votos sejam por mérito, e não por benefício. E se em meio à tanta gente não houver ninguém minimamente decente - o que não é difícil - não tenho dúvidas: eu voto nulo!

2 comentários:

Somel Serip disse...

Gui Campos, olá !
Não seria ótimo se os candidatos ao pleito político fossem os que tivessem sido filtrados por um conjunto de critérios eliminadores ?
Isto não existe pois a máfia política nunca irá querer algo contrário aos seus interesses de existência !

Realmente, dar ensino público de qualidade ao povo é a única forma de sermos uma grande nação !
Mas isto, um futuro povo consciente, a máfia política nunca desejará !

Então, o que nos resta é impormos um Projeto Popular de Reestruturação ao Sistema Eleitoral Político - SEP / TSE.
Um dos tópicos, poderá exigir que o candidato eleitoral tenha o diploma de qualificação política apropriado ao cargo político por ele almejado !
Como forçar que isto seja concretizado ?
- Voto Sempre Nulo até que o SEP seja reestruturado conforme o que estiver contido neste Projeto Popular !

Somel Serip.
Gerente Geral CNBVN ○ Coordenador
somelserip@gmail.com

Amanda disse...

Gui, meu querido amigo sumido!

Concordo em grau, gênero e número!

Vou passar seu texto adiante, ok? :-)

Muzinha