segunda-feira, 17 de agosto de 2009
(...)
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Adeus...
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Crescer
Em que momento crescemos? Quando exatamente deixamos de ser crianças e nos transformamos em pessoas chatas e complicadas? Por quê depois de velhos nos afastamos das pessoas que gostamos? Por quê não abraçamos mais? Não consigo me lembrar quando foi que deixei de tratar o outro com carinho.
Uma criança vê no outro um amigo, uma possibilidade de brincadeira. Mesmo que não falem o mesmo idioma são capazes de se entender. Acho que envelhecer é a arte do desentendimento. De fato. É aprender a desconfiar, a ver no outro uma ameaça.
A adolescência é o ponto médio entre esses dois pontos. Sente-se que algo está ficando para trás mas não se sabe ao certo o quê. Algo que já não pode ser recuperado. Acredito que essa coisa é o presente. A época do deixar-se relacionar. E não falo em sentido sexual, mas de amizade mesmo. Com o tempo acabamos aprendendo que nem sempre se podem cumprir as promessas de amizade eterna, pois o pra sempre às vezes dura muito pouco. Aprendemos a lidar com a perda de pessoas queridas, que se vão para longe. Algumas se mudam de cidade, outras de país. Algumas morrem. Avós, tios, tias, amigos... A morte pouco a pouco deixa de ser um personagem de filme de terror para ser o inimigo que está sempre à espreita, ao nosso lado, levando pessoas queridas.
Descobrimos que muitos “até logo” na verdade são “adeus”. Depois de muitos anos distantes, podemos um dia passar ao lado de uma dessas pessoas queridas de tempos atrás e nem sequer reconhecê-las. Isso sem falar nas dores do coração. São tantas lágrimas, tanto vazio, tanto desespero, que pouco a pouco aprendemos a aceitar a impermanência das coisas. E como o fazemos? Sem nos apegar a nada ou ninguém.
Nunca entendi a parte do budismo que fala do desapego. Se não tivesse apego por todas as pessoas que amo (e acredito que o verbo amar não se conjuga no passado) não teria a menor graça viver. Sigo sofrendo a cada dia pelas pessoas que se foram, desde aquele melhor amigo da 2ª série que se mudou pra Goiânia e eu nunca mais vi, à primeira namorada (que se mudou para o exterior) ou às saudades que sinto todos os dias de todos os parentes e amigos que perdi. Uma espécie de síndrome de Diógenes das recordações.
Talvez crescer seja isso, aprender a conviver com a ausência, com a obrigação de aprender a sobreviver só, com o medo cada vez menos imaginário e mais real da morte. Com a desconfiança e o desentendimento, com as paixões e amizades mais racionais e menos viscerais.
Acho que essa é a pior parte. Aprender a conviver com a autoprivação das demonstrações de afeto, mais com o tapinha nas costas e o aperto de mão e menos com o abraço apertado de um bom amigo. É, sem dúvida nós, adultos, deveríamos nos abraçar mais...
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Escrevi esse texto há um mês atrás, viajando de avião de Madrid para Porto. Havia uma criancinha ao meu lado que falava francês e uma no banco de trás que falava português. E apesar de não falarem a mesma língua passaram a viagem toda "conversando". Já eu sou cada vez mais chato e tenho mais preguiça de conversar com as pessoas que viajam do meu lado...
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Madrid de todos
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Dois clipes foda...
Her Morning Elegance
Music video by Feist performing 1234
with Patrick Daughters, Geoff McLean
(C) 2007 Polydor (France)
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Miguelito e Shaolim
Cala a boca Miguelito! Esse é o mais bêbado de todos. Nunca nem saiu do Goiás e acha que é mexicano. Não sei onde aprendeu esse portunhol, mas achou bonito. Achou uma garrafa de tequila no lixo há uns 2 anos e agora enche de pinga todo dia e acha que tá no México.
Mas como eu ia dizendo, os gritos vinham da casa do outro lado da rua. Uma casa grande, coisa de grã-fino. Mas são justamente esses os que mais fazem merda. Foi um grito alto. A gente olhou assustado. Menos a Grace, que a essa altura devia estar caída no chão mais louca que tudo. Porra, pensando bem, a gente tava tão doido que não sei nem como a gente ouviu alguma coisa.
Nessa, esse moleque pentelho do Miguelito já foi dar uma de super-herói. Viu uma vez o Chapolin na TV de uma loja e virou fã. Agora tá aí essa porra que só fala esquisito. O cara é manso, calminho... Mas quando toma a pinga (que ele jura que é tequila) vira bicho. Deve ser um espírito do mal que entra nele. Eu sei que o cara vira o cão! E como cão sente qualquer cheiro e corre atrás, lá foi o Miguelito espiar da janela.
Eu tinha duas opções. Ou ia com ele ou ficava assistindo a Grace vomitar feito uma porca em cima do próprio rosto. Já cansei dessas merdas. Fui com o Miguelito.
“Yo sabía! Mira como el hombre tiene uma mala cara”. Sabía era porra nenhuma. Nunca sabe de nada. Só fala besteira. Nunca acertou um chute que deu. Também, chapado do jeito que sempre fica...
- Que hombre que porra nenhuma! Não tá vendo que é uma mulher ?
A mulher tava deitada em cima do piano. Aqueles vestidos que a gente só vê em filme: vermelho, com um corte que mostrava as pernas até quase lá. Esse povo rico tem cada coisa. Nunca vi dormir em cima de piano. Até pobre tem mais conforto. Ainda mais com essa roupa.
“Mira que el hombre ya viene”. Era verdade. Pior que dessa vez o puto acertou. O cara vinha com uma pasta de metal. Conversou com a mulher umas merdas que não deu para entender. Acho que era russo, chinês, sei lá que porra era aquela. Ela continuou dormindo e ele mandou duas bolachas na cara dela. E não é que a mulher permaneceu quietinha? Mulher tem dessas coisas. A Grace mesmo no estado que tá agora eu podia encher ela de porrada que ela não ia nem ver. Porcaria nenhuma pra fazer, continuamos olhando.
Foi aí que o gringo abriu a maleta e lá dentro tinha um tanto de injeção.
“Lo Chico va hacer una mierda”. Cala a boca, Miguelito. A mulher deve ser diabética. Você não sabia que rico sempre tem essas merdas? Esse menino vê muito filme.
Aí que o cara aplicou a injeção e a mulher começou a estrebuchar. Meu amigo, eu te digo que já vi muita gente passando mal, bebeu demais... Dessas coisas eu entendo. Agora, vou falar um negócio, aquilo daquela mulher eu nunca vi! Ela babava branco e ficava tremendo. Devia estar com frio. Às vezes dormiu escovando os dentes, sei lá. O bosta do Miguelito que sempre tem as idéias mais extraordinárias: “Él la mató. Yo lo sabía que ello se la iba a matar. Ya compreendí todo. Él hombre es un químico muy famoso. Ya lo he visto en um periódico. Mató la mujer para escribir los livros de la mujer, que conoce más química que ello y decir que eran tuyos. Yo ya lo sabía!” Sabía era porra nenhuma. Esse moleque não sabe nada.
- Essas mulher bonitas sempre tomam uns trem esquisito mesmo. É pra ficar com a pele mais bonita. Tu inventa cada estória, hein moleque? Se não tivesse fugido da escola, hoje seria escritor.
“Pero, mira! Ella está murriendo! Vamos entrar en la casa”. Tu tá é doido, né Miguelito? Se a gente entra na casa desse barão só sai dali dentro de um camburão. E se ela estiver morta mesmo, em quem você acha que vão acreditar? No gringo cheio da nota ou em dois favelados? Se tinha uma coisa que o Miguelito ficava puto era falar que ele era favelado. Quis partir pra cima. Esse moleque precisa é de uns corretivos para aprender a tratar os mais velhos. Mas no que ele correu o cara já saia apressado do apartamento.
“Vamos capturálo, Shaolin! Nosotros seremos los heroes”. Porra, Miguelito. Tu não aprende, né? Dei um cocão no moleque e mandei ficar quieto. Ainda pensou em correr atrás do gringo, mas ficou com medo de outro cocão. Voltamos pro lado da Grace. Já tava escuro. Acendemos umas velas pra iluminar o ambiente. Ficamos um tempão lá daquele jeito. Ainda tinha meia garrafa de pinga.
Acordei no dia seguinte com uma ressaca incrível. Botando as tripas para fora. Peguei um jornal na caixa do correio de um qualquer e puta que o pariu: "Químico alemão suspeito de assassinato". Taquei logo foi fogo no jornal. Se o Miguelito visse ia me pentelhar. Acordou depois de mim, sem entender porra nenhuma. Ele tava passando muito mal. Me viu com o resto do jornal na mão e perguntou: “Há salido algo del crimen del vecino?” Crimen porra nenhuma, Miguelito. Não aconteceu foi nada.
E não é que dessa vez o rapazinho tava certo? O cara nunca acerta e dessa vez foi na lata. Espero que ele não veja o jornal.
“Venga, volvemos a la casa...” A essa hora eu já tava indignado. Um bêbado-herói que só quer ser o que salva o mundo. Mandei a resposta bem seca: Cala a boca, seu puto! A Grace chegou com a garrafa de cachaça, dei um bom gole pra curar a ressaca e passei para Miguelito. E ficamos ali sentados, em silêncio, ouvindo longe o rádio de algum posto de gasolina enquanto a Grace dançava com a garrafa na mão.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Pensamento do dia...
Sobre Deus e a Ciência
Há alguns séculos, desde a consolidação da ciência e de seu modo de entender o mundo, a religião começou a perder seu monopólio. Seu ponto de vista não era mais soberano. Suas posições eram questionadas e novos paradigmas eram propostos. As duas visões – a científica e a religiosa – pareciam estar cada vez mais distantes. No entanto, encontrei um raciocínio que pode, finalmente, acabar com este ferrenho embate.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
A difícil tarefa de ninar
Trovinhas
diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.