segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Marcelo Camelo - Sou




Para se sentir bem
Por Gui Campos

Descobri ontem que já tinha saído o primeiro disco solo do Marcelo Camelo e hoje já fui atrás para escutá-lo. Camelo não decepciona, mantém a qualidade das suas composições e dos arranjos do disco, afastando-se um pouco do estilo dos Los Hermanos, com mais violão e menos guitarra.

Escutei poucas vezes o disco (já que o descobri hoje), mas já foi o suficiente para ver que vai ser um desses que eu escuto muito por um tempo. Recomendo o "play" acima para curtir.

Chamaram a minha atenção principalmente as músicas Doce Solidão (que tem uma levada meio praia, meio Jack Johnson), Janta (parceria com a adolescente Mallu Magalhães, a música é bem simples e bonita, e combina bem os vocais e os violões dos dois) e Liberdade (parceria com o monstro da sanfona Dominguinhos).

O trocadilho da capa também ficou interessante. Nunca tinha reparado que "sou" visto ao contrário e de cabeça para baixo vira "nós". Um bom disco para escutar e se sentir bem...

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domingo, 16 de novembro de 2008

Broadcast 2000 - Building Blocks EP



Indie Rock feito em casa
por Gui Campos

Tudo bem, concordo que o nome é horrível. Parece qualquer coisa, menos uma banda. Um produto do 011 14 06 talvez. Mas o som surpreende. E eu sugiro já dar o "play" acima para curtir a música enquanto se lê o texto.

Conheci o Broadcast 2000 de uma maneira curiosa. Estava trabalhando, editando um vídeo para uma agência de publicidade, desses típicos com foto e texto, que se você coloca uma música que encaixe já tem meio caminho andado. Não estava satisfeito com as opções de música, e continuava provando se alguma se encaixaria melhor.

Então me chega um email de uma amiga dizendo só o seguinte: "Curte esse videoclipe, que genial" com um link para o youtube. Era o videoclipe para a música "Get up and go". Cliquei, e confesso que não prestei muita atenção na música. O vídeo é simples e criativo: o típico efeito de congelar o tempo, como no clipe do "Like a rolling stone", mas de sacanagem. Todas as pessoas na verdade estão como jogando estátua, parecido com o clipe da Asa que eu já postei aqui no blog. Mas com a diferença que colocam elementos em movimento para você perceber que é de sacanagem.

Quando acabou o clipe eu não sabia se a música era boa, do que falava, nem nada. Mas lendo os comentários vi muita gente elogiando o som. Resolvi rever para escutar a música direito dessa vez. E qual não foi minha surpresa ao ver que além de muito boa, encaixava perfeitamente com o vídeo que estava editando.

As músicas misturam violoncelo com ukulelê, glockenspiel, baixo, banjo e arranjos vocais com muito bom gosto. Um típico indie rock inglês, dos melhores.

Sei poucas coisas sobre eles. Sei que "eles" na verdade é uma pessoa só: o multi-instrumentista Joe Steer. Sei que ele escreveu, gravou, mixou e masterizou esse disco em seu quarto, num apartamento no norte de Londres, mas que já assinou com uma gravadora para colocá-lo a venda. E que quando se apresenta ao vivo ele toca guitarra e faz os vocais, e conta com Andrews no glockenspiel, Banner na percussão e Underdown no violino.

Sei que quero um ukulelê...

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

No se me importa un pito

De Oliverio Girondo

No se me importa un pito que las mujeres
tengan los senos como magnolias o como pasas de higo;
un cutis de durazno o de papel de lija.
Le doy una importancia igual a cero,
al hecho de que amanezcan con un aliento afrodisíaco
o con un aliento insecticida.
Soy perfectamente capaz de sorportarles
una nariz que sacaría el primer premio
en una exposición de zanahorias;
¡pero eso sí! -y en esto soy irreductible- no les perdono,
bajo ningún pretexto, que no sepan volar.
Si no saben volar ¡pierden el tiempo las que pretendan seducirme!
Ésta fue -y no otra- la razón de que me enamorase,
tan locamente, de María Luisa.
¿Qué me importaban sus labios por entregas y sus encelos sulfurosos?
¿Qué me importaban sus extremidades de palmípedo
y sus miradas de pronóstico reservado?
¡María Luisa era una verdadera pluma!
Desde el amanecer volaba del dormitorio a la cocina,
volaba del comedor a la despensa.
Volando me preparaba el baño, la camisa.
Volando realizaba sus compras, sus quehaceres...
¡Con qué impaciencia yo esperaba que volviese, volando,
de algún paseo por los alrededores!
Allí lejos, perdido entre las nubes, un puntito rosado.
"¡María Luisa! ¡María Luisa!"... y a los pocos segundos,
ya me abrazaba con sus piernas de pluma,
para llevarme, volando, a cualquier parte.
Durante kilómetros de silencio planeábamos una caricia
que nos aproximaba al paraíso;
durante horas enteras nos anidábamos en una nube,
como dos ángeles, y de repente,
en tirabuzón, en hoja muerta,
el aterrizaje forzoso de un espasmo.
¡Qué delicia la de tener una mujer tan ligera...,
aunque nos haga ver, de vez en cuando, las estrellas!
¡Que voluptuosidad la de pasarse los días entre las nubes...
la de pasarse las noches de un solo vuelo!
Después de conocer una mujer etérea,
¿puede brindarnos alguna clase de atractivos una mujer terrestre?
¿Verdad que no hay diferencia sustancial
entre vivir con una vaca o con una mujer
que tenga las nalgas a setenta y ocho centímetros del suelo?
Yo, por lo menos, soy incapaz de comprender
la seducción de una mujer pedestre,
y por más empeño que ponga en concebirlo,
no me es posible ni tan siquiera imaginar
que pueda hacerse el amor más que volando.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Flamenco em Madrid

La Quimera
por Gui Campos



Um dia fui ajudar o Kiko, um amigo, a gravar o show da Fernanda Cabral, uma cantora brasileira que leva já 10 anos vivendo e cantando em Madrid. Era uma sexta-feira, havia chegado a Espanha há pouco tempo e aproveitei a desculpa de ser seu assistente de câmera para ir assistir ao show, que foi em uma sala de teatro bem interessante daqui que é a Sala Tribueñe, um teatrinho pequeno mas super aconchegante.

O caminho até lá já foi curioso. O teatro fica no bairro de Ventas, onde está a praça de touros de Madrid e a produtora do Almodóvar - El Deseo. Não há muito além disso, só mais um bairro residencial meio longe da minha casa. Mas eu nunca havia estado aí, e ver a praça de touros com seu estilo árabe no meio da capital da Espanha já valeria o passeio. Mas me surpreendi. O show da Fernanda foi bem legal e deu pra matar um pouco das saudades de música brasileira.

Depois do show gravamos um pouco do camarim e uma entrevista com ela. Estavam todos saindo do teatro para tomar uma cerveja no café ao lado, o La Quimera. Ela nos convidou, e nós fomos aí.

Era um lugar pequeno mas bem gostoso, e ficamos aí batendo um papo e tomando uma. Para nossa surpresa, em um dado momento os garçons que estavam nos servindo sobem em um pequeno palco que há aí e pedem silêncio, pois as sextas-feiras são noites de flamenco no La Quimera.

O bar se silencia e começa o violão que, apesar da harmonia relativamente simples do flamenco, esbanja complexidade rítmica e melódica, com umas escalas que não são muito comuns para nós brazucas, mas que soa tão bem e como algo tão antigo que já parece familiar. Logo o até então nosso garçom começa a cantar. As mãos, além de instrumento, são uma extensão do coração, que parece que vai ter um troço ali de tanto sofrimento.

Patrícia, a garçonete, sobe ao palco no final e vem mais uma surpresa, a de escutar o flamenco pela voz feminina. O espanhol é mais fácil de entender, as palmas são mais suaves, as mãos ainda mais expressivas. Mas o mesmo sentir e o sofrer estão presentes também, e o canto treme todo o cafetín, e junto com ele cada um dos que ali estão.

Ainda não havia estado em nenhum flamenco, por pura preguiça de passeios turísticos. Não quero ver shows de flamenco para gringos, não quero comer paella para gringos. Como tenho tempo para descobrir as coisas, espero conhecer as coisas típicas da Espanha naturalmente, sem a pressa dos turistas. E foi assim que eu fui parar no cafetín La Quimera. Nem precisa dizer que virei cliente, e os amigos que passaram por Madrid em uma sexta ou um sábado provavelmente foram levados para lá.

Mais tarde descobriria que o violonista era "O Persa", que apesar da cara e do sotaque andaluz, é um iraniano. O cantor (e dono do La Quimera) é o Antorrín, e Patrícia é a garçonete e cantora. Pouco a pouco descobria uma coisa ou outra, mas tinha vontade de entender como surgiu aquele lugar, de onde eles se conheciam, como o flamenco havia chegado na vida de cada um. No mestrado eu precisava gravar um pequeno documentário sobre o tema que quisesse. E, juntando a necessidade à curiosidade, resolvi fazer o documentário sobre esse lugar e essas pessoas.

O resultado é esse vídeo que eu coloco aqui. Tive a sorte de que a visita do meu "irmão" e companheiro de trabalhos JP coincidiu com o dia que tinha que gravar, e assim - com uma equipe de duas pessoas e nada de iluminação - foi que gravamos. O resultado não tinha como não me agradar, já que eu já era fã do cafetín.

Espero compartilhar um pouco dessa alegria de estar aí com quem assistir ao vídeo. E quem vier a Madrid e quiser fugir do lugar-comum vale a pena passar uma noite aí e por que não inclusive arriscar umas palmas e um olé?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mulholland Drive


“Una historia de amor en la Ciudad de los Sueños”
Por Gui Campos

Si a ti te gusta ir al cine para relajar y aprovechar buenos momentos, no asista Mulholland Drive. La película de David Lynch no dejará que tu cerebro relaje un solo segundo, la música te meterá en una atmósfera de cine negro en medio a gángsteres y conspiraciones y su universo surrealista desafiará tu capacidad de comprensión.

En una época cuando ir al cine es sinónimo de entretenerse degustando saladas palomitas, es un placer para algunos gastar un puñado de neuronas en dos horas y media de película, mientras para otros puede ser extremamente incomodo vivir las mismas dos horas y media en un reino donde, a principio, la razón no impera. Pero una cosa es cierta: nadie sale de la sala de cine indiferente.

Más que una película ordinaria, Mulholland Drive cruza la frontera entre los enlatados hollywoodianos y el arte. Definitivamente la huella del director está presente, en lo que se puede llamar de un filme de autor. El mismo autor que estrenó en el cine con el bizarro Hellraiser, luego transformado en película de cultos, exhibida en las sesiones de medianoche.

Mulholland Drive en realidad son dos películas. Una es un thriller de misterio y tiene una narrativa lineal y comprensiva, aunque repleta de surrealismo, con personajes y diálogos raros, decorados minimalistas y una historia envolvente. Pero luego revélase que esa era sólo una parte de la película: que por detrás de eso hay un drama sobre amor, envidia y venganza en el mundo de los sueños de Hollywood, o como bien ha definido el director, que es “una historia de amor en la Ciudad de los Sueños”.

Ella no es una película acerca de sueños. Ella es un sueño. Y con una fidelidad freudiana, cada elemento de ese sueño revela algo acerca de la verdadera historia por tras de la que aparentemente es narrada.

Mucha gente no se da cuenta de que hay otra película, y cada uno sale del cine como si hubiera visto cosas distintas. Como cada detalle es importante para entender lo que ocurre, un minuto de desatención es suficiente para que el espectador pierda el hilo conductor y vaguee al azar en el mundo de sueños y aberraciones de David Lynch.

La película empieza con un accidente de coche en la carretera Mulholland Drive, y del humo sale Rita (Laura Elena Harring), caminando al azar hasta encontrar una casa para esconderse. Ahí conoce a Betty (Naomi Watts), una aspirante a estrella recién llegada a Los Ángeles.

Rita perdió la memoria, y lo único que se acuerda es que ha estado en un accidente y que la están buscando. En su bolso, encuentran varios paquetes de dinero y una llave azul. Al mismo tiempo en que intenta esconderse de los gángsteres sin rostro que buscan por ella, vive con Betty una aventura policíaca en búsqueda de su pasado olvidado.

Después de casi dos horas de película, toda la historia cambia, y en los 20 minutos finales uno intenta desesperadamente encontrar otra vez el hilo conductor, y se ve perdido como quien acaba de despertar y tarda algunos minutos para entender lo que está pasando.

Por debajo del thriller de aventura, Lynch hace una dura crítica a las relaciones interesadas y la búsqueda desesperada para llegar a la fama en el mundo de Hollywood. Él enseña la verdadera apariencia de ese mundo, la que no está delante de las lentes de los paparazo ni en el glamour de las alfombras rojas.

Para comprender la película, o mejor, el sueño, hay que aventurarse por un universo onírico, donde todo está repleto de símbolos, y por cierto Freud se entusiasmaría en pasar horas y horas desmenuzándola en búsqueda de significados ocultos.

Las explicaciones para la película ocupan páginas y más páginas en Internet, y cada detalle que aparece en la pantalla puede dar origen a una teoría distinta, desde las más obvias hasta las más lisérgicas, pero cada una merece la atención, pues nadie sabe que es que hay en la mente insana del director.

Nos envolvemos en el mismo humo donde la película empieza y termina, de donde sale Rita en el accidente y donde se mete Diane en el fin, y cuando vienen los créditos nos sentimos caminando al azar en medio a las nieblas, donde no hay banda ni orquestra, todo es una ilusión. Pero si nos proponemos sentarnos en el diván y buscar entender los significados en ese mundo onírico, podemos pasear por el universo creado por Lynch.

Y una vez ahí, es impresionante mirar hacia arriba y contemplar el cielo. Ver las estrellas, pero como ellas realmente son.

Ficha Técnico-Artística


Tit. Original
: Mulholland Drive (2001)

Duración
: 147 min.

País
: Estados Unidos

Director
: David Lynch

Guión
: David Lynch

Música
: Angelo Badalamenti

Fotografía
: Peter Deming

Reparto
: Justin Theroux, Naomi Watts, Laura Elena Harring, Ann Miller, Robert Forster, Brent Briscoe, Jeannie Bates

Productora
: Coproducción USA-Francia; Les Films Alain Sarde / Asymetrical Production

Género
: Intriga / Drama

Sinopsis
: Betty es una joven aspirante a actriz que llega a Los Ángeles para convertirse en estrella de cine. Al alojarse en el apartamento de su tía, se encuentra con Rita, una mujer amnésica que ha sufrido un accidente en la carretera Mulholland Drive. Juntas, deciden investigar quién es Rita y cómo llegó hasta allí.

Internet
Página Oficial
Download (Torrent)
Subtítulos (español)
Legendas (português BR)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Mayra Andrade - Navega






É lapidu na bo, menina. Ê ê ê ê.
Por Gui Campos

Outra africana que eu descobri esses dias e que estou totalmente viciado é a Mayra Andrade. Aconselho a quem está lendo apertar o "play" acima para escutá-la enquanto lê o texto e decide se compra o CD (ou baixa da internet).

Mayra Andrade veio de Cabo Verde, um arquipélago na costa da África, ex-colônia portuguesa, onde falam além do português o crioulo, uma língua que surgiu da mistura entre o português e o idioma dos africanos trazidos para as ilhas de Cabo Verde como escravos.

Escutar Mayra Andrade para nós, brasileiros, tem um gostinho ainda melhor, porque entendemos algumas palavras soltas do que ela diz, e acabamos "inventando" a letra das músicas. Além disso, o crioulo soa lindo, faz uma cosquinha no ouvido.

As músicas têm claramente influências do Brasil, e lembram um samba ou um chorinho (há inclusive um cavaquinho), mas com um ritmo bem africano. Já cantou inclusive com brasileiros conhecidos como Chico Buarque e Lenine, e esteve em São Paulo no final de 2007, onde se apresentou 3 vezes.

Além do crioulo, no disco canta também em francês. O título de seu disco, Navega, é uma referência ao fato de que suas músicas navegam pelas águas de muitos países, mas sempre enraizada na cultura de Cabo Verde.

História
Mayra Andrade nasceu em Cuba, em 1985. Filha de pais cabo-verdianos, cresceu em Cabo Verde, mas morou em Senegal, Angola, Alemanha e França. Com dezesseis anos se apresentou e foi premiada em um concurso de Francofonia no Canadá. Passou por vários festivais em todo o mundo e em 2006 regressou para gravar seu primeiro disco, Navega.

Com este seu álbum inicial já ganhou "Disco de Ouro" em Portugal, "Preis de deutschen Schallplattenkritik" na Alemanha e "Artista Revelação de Worldmusic" nos prêmios anuais da BBC britânica.

Deixo aqui indicações de onde encontrar mais informações sobre ela e seu primeiro disco na Internet. Espero que vocês escutem e se deliciem. E talvez até se viciem também, como eu.

Na Internet
Página oficial
Comprar disco (Amazon -U$ 32,99)
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sábado, 24 de maio de 2008

À uma cidade

Madrid, 06 de janeiro de 2008

À uma cidade
Por Gui Campos

Qual mulher misteriosa,
pouco a pouco te revelas.
E eu, estranho forasteiro
estranho não conhecer-te.

Caminho por teus caminhos,
descobrindo a cada dia
uma nova ruazinha
onde eu nunca estivera.

Ouço ao longe teus ruídos:
risos, pessoas e festas
que nunca te deixam dormir.

Na solidão dessa noite
confesso que, despacito,
yo me enamoro de ti.

domingo, 11 de maio de 2008

Mafalda e Drummond


Mafalda e Drummond
Por Gui Campos

Domingo de sol em Madrid, um lindo domingo de sol, e como não estudei nada desde sexta minha consciência não me deixa ir curtir o dia em um parque ou em nenhum outro lugar. Logo, estou fadado a passar o dia em casa estudando. Acabei de fazer e comer o meu almoço e estou enrolando para começar a estudar, lendo umas tirinhas da Mafalda.

Então resolvi colocar essa que eu gostei aqui (se não conseguir ler é só clicar na tirinha que ela abre maior). E aproveito que estou postando pra falar do Drummond também.

Nunca li muitas coisas do Drummond. Gostava da pedra no meio do caminho mas achava que também não era essa coca-cola que todo mundo fala. Já a do João que amava Teresa, que não amava ninguém me parecia mais interessante, principalmente pelo surgimento inesperado do J. Pinto Fernandes no final da história.

Eu gosto do modernismo. Mas me identificava mais com o Mário Quintana, que é quem escreveu o conhecido:

"Todos estes que aí estão,
Atravancando o meu caminho
Eles passarão.
Eu, passarinho."

Ou então com o Manuel Bandeira e o seu genial Pneumotórax:

"Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
- Respire.
...............................................................................................................
-O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Mas ainda não havia encontrado no Drummond essas coisas que fazem alguém passar do conceito de um escritor interessante a alguém genial. E eis que a sorte me fez mudar de idéia.

Meus pais vieram fazer-me uma visita e, como o vôo deles era Brasília-Lisboa, peguei um ônibus e fui até lá encontrá-los na capital lusitana. Aproveitei o final de semana em Portugal para comprar livros em português. E caminhando por uma feirinha de livros baratos vi um livro do Drummond.

Eu estava procurando na realidade por alguma coisa da Clarice Lispector ou da Hilda Hilst, as quais eu conheço bem pouco e queria ler mais coisas. Mas a sorte trouxe-me às mãos um livro do Drummond. Tudo bem.

Em um momento meio Amelie, pensei: "se o trecho do livro que eu abrir for interessante eu compro". Acabou que eu comprei não só o livro, mas o Drummond inteiro. Passou à minha lista de escritores fodões - com certo atraso, confesso.

Bom, deixo aqui o trecho que eu li. O livro se chama "De notícias e não notícias faz-se a crônica". E confesso que, depois de dar a Drummond a chance de convencer-me, já li várias coisas dele que me parecem geniais. E eu adoro que alguém me convença de que é genial. Faz o mundo parecer menos chato se há (ou houve um dia) pessoas assim interessantes.

Chega de blá-blá-blá. Aí o trecho:

Moça na chuva
Carlos Drummond de Andrade
(...)
Moça na chuva: ficam mais bonitas na chuva, ar de andorinha assustada, pula aqui, desguia ali, molha menos do que homem, até nem molha. Há quem as confunda com um raio de sol. Moça é o sol da chuva, sentenciou o poeta Brandãozinho, 18 anos, extasiado. O pai, amadurecido, corrige:
- Moça é o sol, a lua, as estrelas e tudo mais que brilha.
- Pai, você, hem?
- Cale a boca, juvenil, e admire a luz brincando n'água.
(...)


Abraços e feliz domingo de sol a todos. Eu agora clico em "publicar postagem" e finalmente começo a estudar.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Próxima Estación: Tribunal



Móvil Film Fest
por Gui Campos

Bom, deixo aqui o link para um filme que eu fiz que está concorrendo em um festival de filmes feitos em celular. O nome é "Próxima Estación: Tribunal". Os amigos, por favor, cliquem no link e dêem 5 estrelas, né?

Eu queria ter inscrito no festival de filmes curtos de Brasília mas comi mosca e perdi a data.

Ajudei em outro, que é "Eliminado", da Grace de León. Ficou tosco mas divertido. Hehe.

É isso, votem aí!

Abraços,

Gui

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Asa (Asha)




Fire in the mountain
Por Gui Campos


O carro-chefe do primeiro disco da franco-nigeriana Asa (pronuncía-se Asha), é a música "Fire on the Mountain". Já no começo, apenas com voz, violão e um pandeiro meia-lua, já se nota força. Talvez por sua voz grave bastante agradável, talvez por suas letras, sempre de contestação, que são como um grito por ajuda. Mas suas melodias agradam inclusive quem tem preguiça de "pregação".

Além disso, o videoclipe ficou bem interessante. Eles conseguem o efeito de que tudo está congelado da maneira mais simples possível: as pessoas páram como se brincando de estátua. Se prestar atenção você vai ver que as menininhas se mexem um pouco. Mas a maquiagem do vento no cabelo e na roupa e o cenário fazem toda a diferença e o clipe relativamente simples ganha um ar de superprodução. Além do que há outra coisa. Uma amiga comentou ao ver o videoclipe: "que legal, nunca tinha visto uma cantora gravar clipe de óculos". E é verdade, eu também não. Interessante.

Além dessa música, as demais do disco também são muito boas, numa levada metade reggae metade soul, tranquilas mas fortes, cantadas em inglês ou yorubá. Na sua página oficial pode-se escutar todo o CD clicando em Album.

É uma música meio viciante, e sem dar-se conta você já a estará ouvindo ao acordar, como toque de celular, quando entra no carro, enquanto trabalha ou estuda, no banho e na hora de dormir. Mas tudo bem, é sempre bom estar bem acompanhado...


Biografia
Asa nasceu em Paris, foi embora pequena para o seu país e depois voltou à França para fazer sucesso no mundo. Seus pais decidiram voltar à Nigéria, à cidade de Lagos, quando ela tinha apenas 2 anos de idade. Sua curta infância na capital francesa não passa de vagas lembranças.

Asa desde pequena cantava enquanto cuidava de seus irmãos. Preferia cantar que conversar, e improvisava todo o tempo, até o ponto em que sua mãe a fez parar. Cresceu entre as coleções desoul e música nigeriana do seu pai.

Aos 18 anos, frustada por ser recusada em corais por sua voz grave, decide participar de um show de talentos no rádio. Pela primeira vez a aplaudiram. E isso lhe deu força para matricular-se, em segredo, em um curso de música. Seis meses depois havia aprendido a tocar violão.

Vinte anos após sair de Paris, precisou voltar para ser reconhecida. Com medo de acabar virando um produto comercial ou uma sex-symbol, Asa recusou as ofertas de contrato, shows e dinheiro, por não aceitar que mudassem sua música. Conheceu um produtor em 2004, e seu primeiro single "Eyé Adaba" e em seguida "Jailer" começaram a ganhar atenção das rádios.

Só lança seu primeiro disco 3 anos depois, em 16 de outubro de 2007, pelo selo Naïve. Em meados de dezembro é escolhido "Album da semana" pela rádio BBC.

domingo, 30 de março de 2008

Yael Naïm




Tararatata
Por Gui Campos

Minha primeira postagem de música é a última cantora muito boa que me "apresentaram". O nome dela é Yael Naïm.

A música
New Soul estourou no começo desse ano após aparecer em um comercial da Apple. Mas ela tem o seu mérito pela boa aceitação. Yael conseguiu construir vários climas agradáveis dentro da mesma música com o bom casamento entre sua voz doce, o arranjo (um piano com os baixos marcados no começo, os sopros dando um ar bonachão e um violão que entra na hora certa) e uma melodia simples - característica geralmente comum às boas músicas que não conseguem ser esquecidas.

Essa música está em seu
segundo disco, entitulado Yael Naïm. As demais músicas são bem interessantes também. Entre elas há uma versão mais lenta da Toxic, da Britney Spear. Ela canta em francês, inglês e hebreu. Vale a pena ouvir todo o disco. Até porque não é todo dia que se escuta alguém cantando em hebreu...

Biografia
Yael nasceu em 1978, em Paris. Filha de pais judeus, aos 4 anos mudou-se para Israel, onde passou a infância. Lá, estudou música e piano clássico por 10 anos em um conservatório. Serviu às Forças de Defesa de Israel (todos lá são obrigados a servir o exército por 2 anos, inclusive mulheres), mas sua função era de solista da Orquestra da Força Aérea Israelense. Durante esse período cria o grupo The Anti Collision e começa a tocar em clubes em Israel.

Seu primeiro disco (
In a man's womb - 2001) não foi muito bem sucedido. Convidada para atuar na comédia musical Les Dix Commandements, fez parte do elenco por dois anos e meio.

Yael já estava quase largando a carreira de musicista quando conheceu o percussionista David Donatien. Por dois anos criaram arranjos e gravaram músicas para o seu segundo disco (Yael Naïm), lançado em outubro de 2007 pelo selo Tôt ou tard. Na semana seguinte ao lançamento, o disco já estava em 11º lugar na lista francesa das mais pedidas.

Em 2008 Steve Jobs, o criador da Apple, escuta a música
New Soul e resolve usá-la na campanha da Apple para a publicidade do Macbook Air. Rapidamente ela já estava entre as Top 10 na lista da revista americana Billboard.

Internet:
Baixar o disco "Yael Naim"
Comercial da Apple no YouTube
Página oficial de Yael Naïm

sábado, 29 de março de 2008

Notícias de Madri

Por Gui Campos


Alguns meses depois de chegar em Madri escrevi um email contando minha primeiras impressões e dizendo que depois mandaria mais emails. Bom, não mandei. Mas agora escrevo algumas coisas nesse blog contando como vão as coisas por aqui.

Esse primeiro email na verdade era uma carta para minha mãe que eu adaptei e mandei pra todo mundo. Agora vou fazer a mesma coisa de novo. Essa semana, em uma madrugada, escrevi uma carta contando o que tenho feito. Agora adapto um pouco essa carta e publico aqui no blog.


Madrid, madrugada de 24 para 25 de março de 2008

Saudades...
Saudades de fazer nada por Brasília de madrugada com todas essas pessoas que a gente encontra por acaso toda vez que sai em Brasília.
Saudades da Bebel levantando a patinha qndo eu chegava em casa de madrugada.
Saudades de chegar em casa e deitar na rede.
Saudades de fazer filmes.
Saudades de tocar em bar.
Saudades de morar em uma cidade onde moram várias pessoas que eu adoro.
Saudades de tocar chorinho.
Saudades de comer pastel com caldo de cana.
Saudades de comer pamonha.
Saudades dos amigos.

Saudades de tudo, mas hj foi um dia legal. Vi um filme legal. Juno. Tô ouvindo a trilha agora. A música So nice, so smart, da Kimya Dawson.

Tô gostando da Espanha. Apesar das saudades é estranho pensar em voltar pro Brasil. Dá vontade de viajar pra vários lugares, passar um tempo em lugares com praia, conhecer pessoas legais, não sei.

Na semana santa tive uns 12 dias de feriado, que terminam nessa terça. Fui pra Porto, em Portugal. É lindo, e os portugueses são super simpáticos e a comida é boa e barata.

Depois fui de trem pra Santiago de Compostela. O caminho é lindo mas eu não tirei fotos. Em Santiago eu fiquei na casa de uma polonesa do Hospitality Club. E depois encontrei com umas meninas da minha sala e fui pra cidade de uma delas, um pueblito de 2 mil pessoas só. Muito legal. Isso na galícia, onde eles falam galego, que é uma coisa entre portugues e espanhol. Na volta pra Madrid, de trem, peguei neve na estrada, tudo branquinho... lindo...

Tô com sono....

Eu gosto do meu quarto, e a lua cheia tá ali na janela.

Es la hóstia, me cago en diós, de puta madre, joder!

Gui Li Jones
O el chino que se cae de sueño...

Lucía e o Sexo


Um conto cheio de vantagens
Por Gui Campos

Bom, começo a escrever no blog pelo último filme que assisti: Lucía y el Sexo, do Julio Medem.

Eu cada dia me surpreendo mais com o Medem. Seu primeiro filme que eu assisti foi Os amantes do círculo polar. Um absurdo de bom, depois eu coloco uma postagem pra ele aqui.

Lucía e o sexo é, também, um filme lindo. Medem sabe colocar muito bem em imagens e sons uma história interessante de uma maneira poética e surpreendente.

O filme conta a história de Lucía (Paz Vega), uma garçonete que se declara a Lorenzo (Tristán Ulloa), um escritor a quem ela só conhecia por seus livros e por trabalhar perto de sua casa, em Madri. Mas no meio da trama está também Helena (Najwa Nimri), uma valenciana que Lorenzo conhecera alguns anos antes. Najwa atuou também em Os amantes do círculo polar.

Lourenço está escrevendo um novo romance, e nele obviamente coloca coisas de sua vida pessoal. Medem brinca com o inverso, com a maneira como as coisas que ele escreve vão alterando o que supostamente é sua vida, e ao final já estão tão entranhados a ficção que ele escreve e sua vida (a ficção de Medem), que já não podem separar-se mais.

Como descreve o próprio Medem nas palavras de Lourenzo, é um conto cheio de vantagens. A primeira é que quando chega ao fim não acaba, mas cai por um buraco e o conto aparece na metade do conto. E a segunda e maior vantagem, é que daí se pode mudar o rumo.

O filme conta com uma fotografia (Kiko de la Rica) e trilha sonora (Alberto Iglesias) maravilhosas. Isso sem contar a ilha onde os três se encontram, que é um lugar absurdamente bonito.

Uma professora de "Análise do filme" certa vez me disse que para ela um filme bom é aquele que, quando termina, você tem vontade de vê-lo outra vez. Talvez alguns minutos depois, talvez alguns dias. E Lucía e o Sexo definitivamente é um filme que dá vontade de assistir mais duas ou três vezes para tentar entender melhor a inteligente trama tecida pelo diretor.

Lucía y el Sexo (2001)
Dir. e roteirista: Julio Medem
128 min.

ELENCO
Paz Vega (Lucía)
Tristán Ulloa (Lourenzo)
Najwa Nimri (Helena)
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Minha caixa de coisas

Quando tinha uns 12 anos transformei uma caixa de sapatos em uma caixa de coisas, trancada com cadeado, onde eu colocava os textos que escrevia.

Há muito tempo não coloco papéis de caderno escritos naquela caixa, mas às vezes gosto de abrir alguns papéis ao acaso para ler, e me surpreendo por ainda concordar em muitas coisas com aquele menino de muitos anos atrás.

Resolvi continuar com a minha "caixa", agora sem cadeado. Aqui pretendo colocar alguns textos e compartilhar coisas boas que descubro, filmes, músicas, poesias ou qualquer outra coisa...

Abra a caixa e divirta-se!