domingo, 11 de maio de 2008

Mafalda e Drummond


Mafalda e Drummond
Por Gui Campos

Domingo de sol em Madrid, um lindo domingo de sol, e como não estudei nada desde sexta minha consciência não me deixa ir curtir o dia em um parque ou em nenhum outro lugar. Logo, estou fadado a passar o dia em casa estudando. Acabei de fazer e comer o meu almoço e estou enrolando para começar a estudar, lendo umas tirinhas da Mafalda.

Então resolvi colocar essa que eu gostei aqui (se não conseguir ler é só clicar na tirinha que ela abre maior). E aproveito que estou postando pra falar do Drummond também.

Nunca li muitas coisas do Drummond. Gostava da pedra no meio do caminho mas achava que também não era essa coca-cola que todo mundo fala. Já a do João que amava Teresa, que não amava ninguém me parecia mais interessante, principalmente pelo surgimento inesperado do J. Pinto Fernandes no final da história.

Eu gosto do modernismo. Mas me identificava mais com o Mário Quintana, que é quem escreveu o conhecido:

"Todos estes que aí estão,
Atravancando o meu caminho
Eles passarão.
Eu, passarinho."

Ou então com o Manuel Bandeira e o seu genial Pneumotórax:

"Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . .
- Respire.
...............................................................................................................
-O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Mas ainda não havia encontrado no Drummond essas coisas que fazem alguém passar do conceito de um escritor interessante a alguém genial. E eis que a sorte me fez mudar de idéia.

Meus pais vieram fazer-me uma visita e, como o vôo deles era Brasília-Lisboa, peguei um ônibus e fui até lá encontrá-los na capital lusitana. Aproveitei o final de semana em Portugal para comprar livros em português. E caminhando por uma feirinha de livros baratos vi um livro do Drummond.

Eu estava procurando na realidade por alguma coisa da Clarice Lispector ou da Hilda Hilst, as quais eu conheço bem pouco e queria ler mais coisas. Mas a sorte trouxe-me às mãos um livro do Drummond. Tudo bem.

Em um momento meio Amelie, pensei: "se o trecho do livro que eu abrir for interessante eu compro". Acabou que eu comprei não só o livro, mas o Drummond inteiro. Passou à minha lista de escritores fodões - com certo atraso, confesso.

Bom, deixo aqui o trecho que eu li. O livro se chama "De notícias e não notícias faz-se a crônica". E confesso que, depois de dar a Drummond a chance de convencer-me, já li várias coisas dele que me parecem geniais. E eu adoro que alguém me convença de que é genial. Faz o mundo parecer menos chato se há (ou houve um dia) pessoas assim interessantes.

Chega de blá-blá-blá. Aí o trecho:

Moça na chuva
Carlos Drummond de Andrade
(...)
Moça na chuva: ficam mais bonitas na chuva, ar de andorinha assustada, pula aqui, desguia ali, molha menos do que homem, até nem molha. Há quem as confunda com um raio de sol. Moça é o sol da chuva, sentenciou o poeta Brandãozinho, 18 anos, extasiado. O pai, amadurecido, corrige:
- Moça é o sol, a lua, as estrelas e tudo mais que brilha.
- Pai, você, hem?
- Cale a boca, juvenil, e admire a luz brincando n'água.
(...)


Abraços e feliz domingo de sol a todos. Eu agora clico em "publicar postagem" e finalmente começo a estudar.

2 comentários:

Tati disse...

"Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim. Eu o estaria lendo e de súbito, uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!" Clarice Lispector

... disse...

Havia um Drummond no caminho, no meio do caminho havia um Drummond...

Gostei do seu atraso para o estudo.
Nunca li Drummond. Deu vontade agora. Ok! Como vc mesmo disse, há a pedra no caminho, há João que amava tereza... enfim: um ilustre desconhecido para os meus olhos! Mas agora, há também a moça na chuva. Bonita, ela. Uma andorinha molhada! Pra falar a verdade, aqui, estamos num seca braba, agora não chove mais não! Se Drummond estivesse por aqui, ia criar a moça no meio da poeira vermelha...Ou na seca de matar. Mas gostei do seu conselho.
É bom ler chuva, quando a unidade não passa de 15 por cento...rs
E quer saber? Quando você voltar da sua nova morada, quero seu novo amigo emprestado.