segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tempestade

Gui Campos
27/12/2010


O tempo. Cada dia é um dia.
Os sentimentos e as emoções sambando no peito, hora para lá, hora para cá.
A sensação de que o chão escapou e que agora o tufão leva, e não há muito o que fazer.
A tranqüilidade de saber que logo o vento vai diminuir, tudo se acalmar.
Mas o enjôo de estar sendo jogado de um lado ao outro e a dor física da falta.
A necessidade de entender o que passa com o outro.
Saber se essa confusão, essa angústia, são mútuas.
Medo de encontrar, de perder, de saber. 
"O medo é o oposto do amor".

Sabe o castelo que você tratou de construir com todo o cuidado?
Colocar boas cortinas, belos quadros, transformar no lugar mais seguro e aconchegante do mundo...
De repente lhe expulsam. Lá fora uma tempestade, que é todo o oposto do que você tinha antes.
Lhe dão uma picareta e dizem: "Derrube!"

E você tem que derrubar.

Você já não é permitido no seu próprio castelo, e assim ele deixa de existir.
Suas portas se fecham e ninguém mais entra.

Não é fácil derrubar o que se construiu com tanto esmero, 
mas você só consegue passar para o outro lado quando o derruba. Tijolo a tijolo.
E é horrível.
Você quer entrar, mas não pode.
Você quer passar, mas suas paredes enormes estão diante de você.
Você não quer destruí-lo, mas não lhe sobrou outra opção.

Demora. Às vezes mais, às vezes menos. Um dia a tempestade passa.
Depois que você consegue atravessar o que sobrou do seu castelo e continuar andando,
ao olhar para trás vê só mais uma ruína entre outras.
Você já pode caminhar, sentir o vento na cara,
o chão sob seus pés.

Mas a lembrança ainda aperta no peito:
a tranquilidade e a alegria de estar entre aquelas paredes,
no lugar mais aconchegante do mundo. Colo.
Saber que sua felicidade não é mais que uma faísca do que já foi.

Estar outra vez vagando, sem casa, não é fácil,
mas nesse deserto de pessoas temos que aprender a andar sós.
E pouco a pouco o sol se abre, e o vento acaricia os cabelos.

Um dia a andança termina e outra vez erguemos, lentamente, outro castelo.
Mesmo sabendo que é bem provável que, mais dia menos dia, outra vez seremos expulsos.

Mas quem é que consegue viver sem esses maravilhosos dias de oásis?