sábado, 24 de abril de 2010

As Cidades Invisíveis

Italo Calvino, trechos do livro As Cidades Invisíveis

      (...) Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tomado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa viagem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça. Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar, deve prosseguir até uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
      -Você viaja para reviver o seu passado? - era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser formulada da seguinte maneira: - Você viaja para reencontrar o seu futuro?
      E a resposta de Marco:
      - Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá. 

As cidades e o desejo 4

No centro de Fedora, metrópole de pedra cinzenta, há um palácio de metal com uma esfera de vidro em cada cômodo. Dentro de cada esfera vê-se uma cidade azul que é o modelo para uma outra Fedora. São as formas que a cidade teria podido tomar se, por uma razão ou por outra, não tivesse se tornado o que é atualmente. Em todas as épocas, alguém, vendo Fedora tal como era, havia imaginado um modo de transformá-la na cidade ideal, mas, enquanto construía o seu modelo em miniatura, Fedora já não era mais a mesma de antes e o que até ontem havia sido um possível futuro hoje não passava de um brinquedo numa esfera de vidro. 

Agora Fedora transformou o palácio das esferas em museu: os habitantes o visitam, escolhem a cidade que corresponde aos seus desejos, contemplam-na imaginando-se refletidos no aquário de medusas que deveria conter as águas do canal (se não tivesse sido dessecado), percorrendo no alto baldaquino a avenida reservada aos elefantes (agora banidos da cidade), deslizando pela espiral do minarete em forma de caracol (que perdeu a base sobre a qual se erguia).

No atlas do seu império, ó Grande Khan, devem constar tanto a grande Fedora de pedra quanto as pequenas Fedoras das esferas de vidro. Não porque sejam igualmente reais, mas porque são todas supostas. Uma reúne o que é considerado necessário, mas ainda não o é; as outras, o que se imagina possível e um minuto mais tarde deixa de sê-lo.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Três músicas para três horas do dia

por Gui Campos

Posto aqui três músicas fodas. Uma para cada momento do dia.

A primeira é para acordar. Esse tipo de música para colocar quando acorda, abrir a janela e dar bom dia ao sol. Sarah Vaughan e a incrível "Experience Unnecessary":

A segunda é para o começo da tarde. Na hora da siesta. O compositor é o francês Erik Satie. Do começo do século XX, teve sua obra ofuscada pela de um gênio que foi seu contemporâneo: Debussy. Acabou redescoberto quando essa música foi usada em um comercial de sabonete (hoje passa na novela da globo). Gymnopedie n.1. Vale a pena ouvir com fone de ouvido.

A terceira é para o final do dia. Para quando chegar em casa, cansado, deitar na rede (se não tiver rede vale um sofá mesmo ou a cama), e escutar com fone de ouvido também. Do japonês Ruichi Sakamoto, a trilha do filme "Merry Christmas, Mr. Lawrence", de 1983.

Tenham um bom dia!